1.   Antecedentes desta pesquisa

Em 2002, iniciamos um projeto de pesquisa intervenção que teve como objetivo a re-construção coletiva da memória do Córrego dos Januários, pequeno povoado situado na região leste de Minas Gerais, no município de Inhapim. Esta pesquisa, realizada por Denise Sampaio Gusmão, sob a orientação da Professora Solange Jobim e Souza, resultou na dissertação de mestrado “Por uma estética da delicadeza: Ressignificando contos e imagens nas roças de Minas”¹, Departamento de Psicologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2004 e, posteriormente, na tese de doutorado: “Narrativa, Testemunho e Delicadeza: a Casa de Memória e Cultura do Córrego dos Januários”², defendida em outubro de 2009³. Ao longo deste projeto foi criado, no âmbito do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa da Subjetividade (GIPS), um núcleo de estudos e pesquisas – Centro Interdisciplinar de Memória, Subjetividade e Cultura (CIMESC)⁴, que vem se consolidando nos últimos oito anos, através de três grandes pesquisas já realizadas e concluídas, além da oferta de três disciplinas para alunos de pós-graduação sobre o tema “História, memória e narrativa”, com base nas teorias de Walter Benjamin, Mikhail Bakhtin, Maurice Halbawch, Paul Ricouer, Hannah Arendt, Ecléa Bosi, entre outros. Além das pesquisas acima mencionadas, podemos destacar a tese de doutorado de Cristina Laclette Porto, defendida em abril de 2010, no Departamento de Psicologia da PUC-Rio, intitulada “Álbuns de retratos, infâncias entrecruzadas e cultura lúdica: memória e fotografia na Brinquedoteca Hapi”⁵ que se debruçou sobre a constituição de acervos de brinquedos e brincadeiras, fornecendo subsídios para políticas públicas voltadas para formação de educadores que trabalham com a infância.

1 Esta pesquisa foi realizada durante os anos 2002-2003, no âmbito do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa da Subjetividade, Departamento de Psicologia, PUC-Rio, e resultou na dissertação de mestrado Por uma estética da delicadeza: ressignificando contos e imagens nas roças de Minas, de Denise Sampaio Gusmão, defendida em março de 2004. Sobre esta pesquisa ver também artigo em Psicologia & Sociedade; 20, Edição Especial: 24-31, 2008. http://www.scielo.br/pdf/psoc/v20nspe/v20nspea05.pdf

2 Ver Jornal da PUC

3 Parte dos resultados desta pesquisa encontra-se publicado na revista Psicologia & Sociedade, 22 (2): 288-298, 2010, com o título “História, memória e narrativa: a revelação do “quem” nas histórias orais dos habitantes do Córrego dos Januários”, autoria de Denise Sampaio Gusmão e Solange Jobim e Souza. http://www.scielo.br/pdf/psoc/v22n2/09.pdf

4 Foi criado no âmbito do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa da Subjetividade do Departamento de Psicologia, o Centro Interdisciplinar de Memória, Subjetividade e Cultura – CIMESC. Em linhas gerais, o CIMESC tem como objetivo articular estudos e pesquisas em memória social e coletiva, se constituindo como um espaço para apoiar a formação de recursos humanos para projetos sociais e culturais em comunidades que demonstrem interesse em desenvolver estratégias de ação para valorização da expressiva diversidade cultural das histórias de vida de seus habitantes.  

5 Ver tese “Álbuns de retratos, infâncias entrecruzadas e cultura lúdica: memória e fotografia na Brinquedoteca Hapi”


2.   A Pesquisa: Museu de Favela - a memória social e coletiva das comunidades a partir das histórias contadas por seus moradores

A relevância deste projeto se justifica em função do imenso desafio que a cidade do Rio de Janeiro apresenta neste momento histórico de dar continuidade à ação de inclusão social e urbana das favelas cariocas através de projetos que aliem segurança, educação, cultura e cidadania. Um dos objetivos desta investigação é oferecer subsídios teóricos e práticos para políticas locais que contribuam para superar os problemas da violência urbana, gerados em sua grande maioria por processos de exclusão e marginalização social e cultural. Para tal, a presente pesquisa pretende gerar estudos e ações para a produção de um olhar diferenciado e integrador para os habitantes das favelas submetidas historicamente a altos índices de violência, na cidade do Rio de Janeiro. Nossa intenção é produzir um conhecimento compartilhado, entre o pesquisador e seu outro, que contribua para desconstruir preconceitos e estigmas que afetam e dificultam a integração dos habitantes das comunidades pobres, composto por um expressivo contingente de cidadãos que são representantes da cultura negra e da cultura nordestina, como também de migrantes de outras regiões do país. Além disto, consideramos que qualquer política voltada para minimizar os problemas de áreas densamente povoadas, como é o caso das favelas da cidade do Rio de Janeiro, precisa necessariamente considerar as experiências de vida dos habitantes destas localidades, articulando suas histórias particulares com a dimensão da experiência coletiva, levando em conta o entrelaçamento de narrativas que perpassam diferentes gerações, reconhecendo a miscigenação da cultura local que já vem se realizando ao longo de quase um século de história.

O Centro Interdisciplinar de Memória, Subjetividade e Cultura – CIMESC, núcleo de estudos que integra os Departamentos de Psicologia e Artes e Design da PUC-Rio, com base em sua larga experiência nos estudos da memória coletiva e social, propõe uma parceria com o Museu de Favela - MUF, organização não governamental privada de caráter comunitário, fundada em 2008 por lideranças culturais moradoras das favelas Pavão, Pavãozinho e Cantagalo. A memória da favela faz parte de uma memória coletiva mais ampla e diz respeito à formação de uma cidadania plena, de uma identidade que acolhe e dialoga com diversas matrizes culturais e sociais. Os produtos áudio visuais a serem gerados a partir deste projeto se constituem como estratégia de criação de acervos digitais e difusão da memória e da cultura da favela como patrimônio da cidade do Rio de Janeiro. Valorizar a memória coletiva e social destas comunidades e torná-la visível é o propósito deste convênio do CIMESC/PUC-Rio com o MUF.